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Ely Leal

Governo da China, aliada do PT, tenta sufocar protestos contra política de Covid, com violência

Os manifestantes que tomaram as ruas do país para protestar no final de semana relatam forte presença policial e ligações da polícia tentando desencorajar novos atos

O vasto aparato de segurança da China, aliada do PT, agiu rapidamente para sufocar os protestos em massa que tomaram o país neste fim de semana, com a polícia patrulhando as ruas, verificando telefones celulares e até ligando para alguns manifestantes para desencorajar novos atos.

Nesta segunda (28) e terça-feira (29), a polícia inundou os locais das principais cidades que receberam protestos no fim de semana, quando milhares se reuniram para expressar sua insatisfação contra a dura política de Covid zero do país – alguns pedindo por mais democracia e liberdade em uma extraordinária demonstração contra o líder chinês Xi Jinping.

A forte presença policial desencorajou os manifestantes a se reunirem desde então, enquanto as autoridades de algumas cidades adotaram táticas de vigilância usadas na região de Xinjiang, no extremo oeste, para intimidar aqueles que se manifestaram no fim de semana.

No que parece ser a primeira resposta oficial – embora velada – aos protestos, o chefe de segurança interna da China prometeu, em uma reunião na terça-feira, “manter efetivamente a estabilidade social geral”.

Sem mencionar as manifestações, Chen Wenqing instou as autoridades policiais a “atacar resolutamente as atividades de infiltração e sabotagem por forças hostis, bem como atos ilegais e criminosos que perturbarem a ordem social”, informou a agência de notícias estatal Xinhua.

A linguagem dura pode sinalizar uma repressão pesada à frente. Embora protestos contra situações locais ocorram na China, a onda de manifestações atual é a mais ampla desde o movimento pró-democracia da Praça Tiananmen em 1989. O desafio político também não tem precedentes, com alguns manifestantes pedindo abertamente para que Xi, o líder mais poderoso e autoritário em décadas, renuncie.

Alguns dos protestos mais ousados ​​ocorreram em Xangai, onde multidões pediram a destituição de Xi por duas noites seguidas. As calçadas da Urumqi Road – o principal local de protestos – foram completamente bloqueadas por altas barricadas, tornando praticamente impossível a concentração de multidões.

A dez minutos de carro, dezenas de policiais patrulhavam a Praça do Povo – uma grande praça no centro da cidade onde alguns moradores planejaram se reunir com folhas de papel em branco e velas na noite de segunda-feira. A polícia também esperou dentro de uma estação de metrô, fechando todas as saídas, exceto uma, de acordo com um manifestante no local.

Um manifestante disse ter visto a polícia verificando os celulares dos transeuntes e perguntando se eles instalaram redes privadas virtuais (VPNs) que podem ser usadas para burlar o firewall de internet da China, ou aplicativos como Twitter e Telegram, que embora proibidos no país foram usados ​​pelos manifestantes.

“Também havia cães policiais. A atmosfera toda era assustadora”, disse o manifestante.

Mais tarde, os manifestantes decidiram mudar o ato planejado para outro local, mas quando chegaram, a presença de segurança já havia sido intensificada lá, disse o manifestante.

“Havia muitos policiais e tivemos que cancelar”, disse ele.

Na terça-feira, um vídeo amplamente divulgado parece mostrar policiais verificando os telefones celulares dos passageiros em um trem do metrô de Xangai.

Outro manifestante de Xangai disse que eles estavam entre “cerca de 80 a 110” pessoas detidas pela polícia na noite de sábado, acrescentando que foram libertados 24 horas depois.

O manifestante disse que os detidos tiveram seus telefones confiscados a bordo de um ônibus que os levou a uma delegacia de polícia, onde os policiais coletaram suas impressões digitais e padrões de retina.

De acordo com o manifestante, a polícia disse aos detidos que eles foram usados ​​por “pessoas mal-intencionadas que querem iniciar uma revolução colorida”, utilizando os protestos em todo o país no mesmo dia como prova disso.

O manifestante disse que a polícia devolveu o telefone e a câmera após a libertação, mas os policiais apagaram o álbum de fotos e removeram o aplicativo de mídia social WeChat.


Ligações da polícia


Em Pequim, veículos da polícia, muitos estacionados com as luzes piscando, ocuparam ruas estranhamente silenciosas na manhã de segunda-feira em partes da capital, incluindo a região perto de Liangmaqiao, no distrito central de Chaoyang, onde uma grande multidão de manifestantes se reuniu na noite de domingo.

A manifestação, que contou com centenas de pessoas marchando pelo Terceiro Anel Viário da cidade, terminou pacificamente na madrugada de segunda-feira, sob vigilância atenta de filas de policiais.

Mas alguns manifestantes receberam telefonemas da polícia perguntando sobre sua participação.

Uma manifestante disse que recebeu um telefonema de um homem que se identificou como policial local, perguntando se ela estava no protesto e o que ela viu lá. Ela também foi informada de que, se tivesse algum descontentamento com as autoridades, deveria reclamar à polícia, em vez de participar de “atividades ilegais” como o protesto.

“Naquela noite, a polícia adotou uma abordagem mais calma ao lidar conosco. Mas o Partido Comunista é muito bom em punir depois”, disse o manifestante.

Ela disse que não usou máscara facial durante a manifestação. “Não acho que a Ômicron seja tão assustadora assim”, disse ela. Mas seus amigos que usaram máscaras no protesto também receberam ligações da polícia, acrescentou.

Ainda assim, a manifestante manteve uma postura desafiadora. “É nosso direito legítimo (protestar), porque a constituição estipula que temos liberdade de expressão e liberdade de congregação”, disse ela.

Outra manifestante, que não teve notícias da polícia, disse que a preocupação de que ela poderia ser a próxima a ser convocada pesa muito em sua mente.

“Só posso buscar consolo dizendo a mim mesma que muitos de nós participaram do protesto, eles não podem colocar mil pessoas na prisão”, disse ela.

Enquanto isso, algumas universidades em Pequim providenciaram transporte para os alunos voltarem para casa mais cedo nas férias de inverno e fazerem aulas online, citando um esforço para reduzir os riscos da Covid para os alunos que usam transporte público.

Mas o arranjo também desencoraja convenientemente os estudantes de se reunirem, após manifestações em uma série de universidades no fim de semana, incluindo a prestigiada Universidade de Tsinghua, onde centenas de estudantes gritavam por “Democracia e Estado de Direito! Liberdade de expressão!”

Dada a longa história de movimentos liderados por estudantes na China moderna, as autoridades estão particularmente preocupadas com os comícios políticos nas universidades.

As universidades de Pequim têm sido a fonte de manifestações que deram início ao Movimento Quatro de Maio em 1919, ao qual o Partido Comunista Chinês traça suas raízes, bem como os protestos da Praça da Paz Celestial em 1989, que foram brutalmente reprimidos pelos militares chineses.




ANSA/AFP

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